março 20, 2011

Minha vida e minha história...

Em poucas palavras, essa foi minha jornada até aqui...
Em 1964 meu pai com 18 anos foi de Alagoas (Ibateguara) para SP tentar a vida na cidade grande.
Se tornou vendedor de uma barraca de amendoim e com esse trabalho conseguiu trazer seus 18 irmãos e seus pais para São Paulo.
Comprou casa para a familia toda e ajudou todos como pode. Estudou um pouco (1ª a 8ªserie) e virou operario de fabrica quando seu negocio faliu.
Minha mãe nasceu em Mairiporã, sempre viveu pobre, eram em 12 irmãos, meio ciganos-meio nomades, até que conseguiram firmar moradia na cidade de Suzano.
Foi lá que meus pais se conheceram em 1975, namoraram, casaram e começaram minha familia.
Eu nasci em março de 1977, a filha mais velha de 5 irmãos, na cidade de São Miguel Paulista.
Meus pais não tinham casa propria, moravam num unico comodo com banheiro e meu primeiro berço foi uma mala velha.
Quando completei um ano de idade meus pais voltaram a viver em Suzano, proximo a casa de meus avós.
Ali nasceram meus outros irmãos, numa casa de madeira de 2 comodos improvisada por meu pai moramos até que nasceu minha ultima irmã em 1981.
Crescemos com muitas dificuldades, muitas privações, mas o estudo sempre foi a maior cobrança que meu pai fazia para que pudéssemos ter um futuro melhor do que aquele presente que tinhamos.
Eu me formei em colégio publico e logo fui para a faculdade, mas não pude prosseguir com os estudos porque fiquei desempregada.
Em 1999 conheci meu esposo em uma festa popular do bairro onde morava em Suzano e logo começamos a namorar. Nos casamos em 2001.
Consegui um bom emprego numa multinacional espanhola e retomei meus estudos.(técnico de quimica)
Meu esposo é mais jovem que eu e nunca tinha trabalhado no Brasil quando nos casamos (apenas no Japão, no periodo em que morou aqui com seus pais) e foi quando casamos que ele teve seu primeiro emprego em uma empresa de telemarketing.
Em 2002 nasceu nossa primeira filha numa cesarea que foi dificil entender. A explicação foi que ela estava passando da hora (com 41 semanas) e que deveria nascer logo para não morrer, a mim restou a frustração e as perguntas não respondidas.
Em 2003 eu continuava estudando quimica, fiz alguns cursos rapidos paralelos e meu marido continuava com o telemarketing.
No começo de 2004 eu terminei meu curso técnico de quimica e foi quando nasceu nosso segundo filho novamente por cesarea, o que me causou uma depressão horrivel, um processo muito difícil de superar para uma mulher que desejava um parto normal.
Nesse mesmo ano, diante da nossa situação, meu marido achou que seria bom tentarmos o visto para o Japão para termos uma vida financeiramente mais tranquila, mas o visto foi negado. Ele ficou super deprimido por isso.
Em junho desse ano seu pai faleceu de cancer no Japão e ele não pode se despedir.
Foi um período muito dificil para nós e meu esposo ficou quase 1 ano desempregado.
Em Abril de 2005 meu esposo conseguiu um emprego como instalador da NET, onde ganhava um salario minimo mais auxilio transporte. Saia de casa as 5 da manhã e chegava as 10 da noite. Ficou por 6 meses e pediu demissão porque ele estava exausto e estressado com o trabalho e a rotina áridos e decidiu tentar o visto para trabalhar no Japão novamente.
Em outubro eu engravidei de meu terceiro filho e em novembro o visto do meu marido foi concedido.
Em meio as lagrimas e muita tristeza ele veio para o Japão e eu fiquei com meus filhos esperando por ele. Apesar de tudo, era o melhor a fazer.
A ideia inicial era ele ficar por 2 anos, pagarmos as dividas do periodo que ele ficou desempregado e ele retornar com algum dinheiro para comprarmos nossa casa.
Meu terceiro filho nasceu em um lindo parto domiciliar com parteira, mas privado da presença do seu amoroso pai, que infelizmente não pode vir para acompanhar. Foi uma realização, um VBA2C.
Eu lutei muito por aquele parto e me senti realizada como nunca ao me tornar mãe mais uma vez, de forma natural, sem intervenções desnecessárias. Senti-me completa pela primeira vez depois de receber meu filho. Eu o havia parido de verdade, como sempre desejei.
Quando completou 1 ano e meio que meu esposo estava no Japão a saudade batia muito forte e ele não tinha previsão de voltar definitivamente porque não haviamos conseguido quitar tudo ainda, então foi me visitar no Brasil e engravidei da quarta filha.
Ele ficou 40 dias no Brasil e voltou para o Japão.
Foi uma época muito dificil novamente em que quase nos divorciamos, mas decidimos que se queriamos o melhor para nossa familia, deveriamos ficar juntos e passar pelas dificuldades juntos.
Arrumei tudo que pude, pedi demissão de meu emprego e tentei meu visto com o dos meus filhos e conseguimos embarcar para o Japão em 16 de março de 2008, quando eu estava gravida de 35 semanas. Era uma escolha muito ousada, mas eu queria a minha família unida outra vez.
Foi um alivio estarmos juntos novamente, podermos partilhar o dia a dia, as crianças curtirem o pai e ele finalmente curtir todos nós.
Minha bb4 nasceu no aconchego de nosso lar num parto entre mim e o marido apenas, e foi uma experiencia extremamente maravilhosa que fez com que nosso laço de amor se fortalecesse. Por telefone e internet, amigos, amigas e profissionais do Brasil me ajudaram a enfrentar um dos desafios mais fortes que me propus. Não recomendo o parto desassistido, mas esta era minha única possibilidade na ocasião.
No inicio de 2009 começou a crise no Japão e o salario bom que meu esposo recebia caiu pela metade.
Passamos por periodos dificeis e viviamos com cestas basicas de amigos por muitos meses.
Economizamos tudo quanto podiamos.
Não pudemos receber a ajuda do governo japones para voltar ao Brasil porque meu marido não chegou a ficar desempregado. (a ajuda era só para desempregados)
Eu me tornei blogueira e atraves do blog Materna Japão comecei a ajudar mães brasileiras do Japão com questões relacionadas a parto, amamentação, humanização no nascimento e maternidade ativa. Muitas pessoas passaram a se beneficiar por este empenho, um trabalho que faço com muito carinho, porque foi com muito carinho também que fui acolhida pelas pessoas que lutam pela humanização do nascimento no Brasil. Ganhei muitas amigas virtuais e presenciais e pude ajudar e ser ajudada com questões relacionadas a maternidade e do dia-a-dia no Japão.
Entre 2009 e 2010 meu marido começou estudar fotografia por conta própria.
Fez alguns workshops, comprou uma maquina fotografica, começou a participar de foruns, assistir documentarios e ler livros e se apaixonou pela profissão. Decidiu que faria dela sua nova paixão e que investiria tudo o que pudesse para que voltassemos ao Brasil para recomeçar nossa vida com esse trabalho.
Eu estudei japones e fiz curso de doula em 2010.
A previsão para melhorar as condições financeiras no Japão eram para segundo semestre de 2011.
Em maio de 2010, aconteceu uma nova gravidez. Tudo correu bem com a gestação e decidi ter um novo parto desassistido, mas dessa vez com transmissão ao vivo pela internet. Queria mostrar para as pessoas do mundo que um parto é um processo natural e trabalho de parto não é um terror como muitas mulheres pensam. Queria oferecer às outras mulheres a oportunidade de refletir sobre o trabalho de parto, o parto e a beleza de nascer naturalmente.
Minha bb nasceu em 26 de fevereiro de 2011, linda e saudavel, em mais um parto domiciliar desassistido e transmitido para quase 200 pessoas. Foi novamente uma experiencia incrivel.
O ano começou bem e tinha tudo para melhorar nossas condições economicas, já estavamos planejando retornar ao Brasil até fevereiro de 2012, mas em 11 de março ocorreu o tremor que abalou nossos planos e antecipou questões.
Vimos pela televisão cidades sendo arrastadas pelo tsunami, centenas de japoneses e estrangeiros sofrendo os efeitos do terremoto e do tsunami, impotentes perante umafúria da natureza.
Com os acidentes na Usina de Fukushima, nossas preocupações aumentaram. Pelo grande risco de contaminação radioativa ocorrer conosco e com nossos filhos, porque sabemos que haverá um periodo critico e de mais privações (de alimentação e financeira em geral) e diante de toda a dificuldade que como estrangeiros temos que enfrentar, decidimos voltar e recomeçar nossa vida do zero no Brasil.
O Japão me trouxe coisas boas, sou muito grata pela oportunidade. Mas tenho muito medo do futuro incerto aqui diante da catástrofe que o país vem passando. Não sou covarde, não sou uma pessoa que aproveitou a oportunidade que o Japão me deu e agora vai embora. Sou uma mãe consciente de que estas 5 crianças precisam de segurança e de um futuro mais certo, hoje o melhor para minha família é voltar para nosso país. Sei que será um começo difícil, mas com a ajuda de familiares e amigos que estão se organizando para nos auxiliar, tenho certeza que vamos nos reerguer e ter um futuro feliz no nosso país. Quero terminar meus estudos, quero que meu marido cresça na profissão e que nossos filhos possam contar esta história com orgulho, pois as barreiras que a vida impôs nos levaram a desafios e aprendizados muito ricos.

6 comentários:

  1. Vou ser a primeira a comentar, não estou mais em Suzano, mas pode contar conosco sempre, vou ver o que posso fazer por aqui, e assim que estiver no Brasil, tenho certeza que vou poder ajudar bastante, você vai ser muito feliz aqui no Brasil com seus filhos e esposo, tenho certeza disso.Seus familiares são muito unidos, você receberá apoio financeiro e o governo brasileiro ajuda muito também, olha o que posso dizer de tudo isso que você relatou, o sofrimento nos torna pessoas mais fortes, volte com a cabeça erguida, recomece e vença, sempre te vi guerreira, recomece na profissão, ou em outra, o importante é a união e o apoio um do outro. Pra ele nao chegar ai sem nada na mão, ele podia ajudar meu pai, só até conseguir alguma coisa, meu pai precisa de alguem pra ajuda-lo, nem que seja ums dias até vcs se ajeitarem, e olha voce podia ajudar a Telma no salão, ela também precisa de alguem, também provisório ate voce conseguir alguma coisa melhor. se Quiser falo com eles. Suzano ta tão diferente, o próprio Colorado não vão reconhecer ta mais parecendo cidade. Estou tão feliz que voces vão retornar, Beijos

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  2. Oi Ro! Li toda a tua história, quantas lutas! E quanta superação! Deus dá sempre o cobertor conforme o frio, sempre nos dá forças suficientes para ultrapassar as dificuldades, e de cada uma delas renascemos melhores. Mesmo as circunstâncias do tsunami, das usinas, da radiação... tudo tem um propósito.
    Que maravilha que vocês vão voltar! Com certeza vai dar tudo certo, e se for pelo talento de fotografia do seu marido... olha vou dizer, as fotos dele são lindas demais! (as mais lindas são as que a modelo é você, preciso dizer!) Deus guia e sustém Seus filhos, sempre, sempre!

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  3. Rô!!! Que história... E o livro da sua vida sai quando? Sim pois espero que coloque tudo isso num livro delicioso para eu poder folhear e saber ainda mais!! Gosto muito de vocês e espero poder ajudá-los, beijo grande e "vorta" logo!

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  4. Moro em Migi das Cruzes, li sua historia e me comovida, o que poder fazer para te ajuda farei.O minimo pode ser a ajuda que vc precisa.Seja forte.

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  5. que vergonha gente cinco filhos...se nao tem condicoes de criar pra que ter tantos e agora nao tem nem dinheiro pra voltar pro brasil..com uma mao na frente e outra tras pedindo dinheiro pros outros..entao nem deviam ter tantos filhos e nem saido do pais.

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  6. pra começo de conversa anônimo vc devia ter pelo menos a decência de colocar seu nome, ja conhecia seu blog, torço por vcs que tudo de certo pra vc e sua familia.

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Faaaala que eu te escuto...